“Foi a maneira que encontrei de perpetuar as preciosidades que vivi”. É desta forma que a escritora e psicanalista de Araraquara, Juliana Garcia, de 33 anos, descreve o livro “Quarto vinte e nove: o que a morte me ensinou sobre a vida”. Publicada em 2019 pela editora Telha, a obra foi selecionada pelo Salão do Livro de Genebra, na Suíça, que começa na próxima semana.
“Nem nos meus melhores sonhos eu poderia supor essa possibilidade”, comemorou a escritora que participa desessão de autógrafos e exposição no dia 7 de março.
Durante cinco dias, o Salão do Livro reúne autores e personalidades para mostrar suas obras e debater temas da atualidade. Ao todo, serão 11 palcos.
“Quando recebi o convite, lembrei-me da menina que fui, na biblioteca da minha cidade, apaixonada pelo que lia. Pensei no quanto ela estaria satisfeita e orgulhosa se pudesse dar uma espiadela no futuro“, completou.
INFÂNCIA NA BIBLIOTECA
A menina Juliana ainda morava em Bebedouro – cidade a 110 quilômetros de Araraquara – quando se encantou pelos livros. A poucos metros da casa de sua avó paterna ficava a biblioteca municipal, onde passou muitas tardes de sua infância.
De Clarice Lispector à Cecília Meireles, passando por Rubem Alves, as histórias que lia floreavam sua imaginação. “A biblioteca era uma extensão do ‘meu quintal’ de brincar”, lembrou.
Juliana tinha o estímulo em casa e na escola. Foi ainda no ensino fundamental, durante um projeto de incentivo à leitura, que escreveu “um livrinho pela primeira vez.”
“Esse é um aspecto que considero fundamental para o incentivo da leitura na infância: que as crianças tenham livros de fácil acesso e, principalmente, vejam seus pais lendo para que se interessem posteriormente”, opinou.
Desde então, ela se manteve apaixonada pela literatura. Hoje, mantém sempre um exemplar por perto, seja na cabeceira da cama, na mesa de seu consultório ou na bolsa. “Ler bons livros torna o seu mundo mais vasto. São tantos benefícios que se torna irresistível não ler“, pontuou.
‘QUARTO VINTE E NOVE’
De leitora voraz, Juliana publicou seu primeiro livro em 2019, com os relatos que ouviu de pacientes oncológicos em cuidados paliativos do Hospital de Amor de Barretos, por meio da ONG Terapia do Riso, do qual é fundadora.
“Toda história merece ser contada. Tanta coisa valiosa pode e deve ser registrada e escrever é uma maneira de continuar”, explicou.
Juliana Garcia – escritora
Em 84 páginas, o livro propõe a reflexão sobre a finitude da vida e de como é possível viver de forma genuína, não adiando a realização de sonhos por motivos irrisórios.
“Pensar na nossa morte, e na dos que amamos, traz uma perspectiva muito interessante para o que consideramos grandes problemas: ‘se a morte chegasse agora, você ainda estaria fazendo o que faz? Aquela discussão teria mesmo tanta importância'”, questionou.
A escritora contou que a criação do livro foi um processo natural e que não tinha a pretensão de se tornar uma autora lida por diversas outras pessoas. “Para mim, compartilhar essas histórias foi uma maneira de honrar a vida daqueles que conheci através das visitas da ONG”, completou.
“Recebi relatos de desconhecidos que leram o meu livro e disseram que repensaram em algumas questões que pareciam sem solução, outros que decidiram perdoar um desafeto, casos de quem decidiu também se tornar voluntário. Apesar de não ser um propósito inicial, saber que o ‘Quarto Vinte e Nove’ inspirou ações positivas me traz a sensação de dever cumprido“, disse.
FUTURO
A escritora deve publicar outros dois livros ainda este ano: um com as perspectivas sobre o voluntariado por meio de histórias inspiradoras e outro relacionado à maternidade, vida adulta, memórias e relacionamento.
Para ela, as pessoas continuam através das marcas que deixam, seja “escrevendo um livro, plantando uma árvore ou tendo um filho” – legado considerado como o ‘segredo da vida’.
“Iniciei esse texto citando os três conceitos de perpetuidade humana, segundo o dito popular, e, não, não plantei nenhuma árvore – e sinto informar que sou péssima com plantas. Mas acredito que ‘plantando girassóis’ através da leitura, posso de alguma forma continuar, tocando e inspirando vidas“, concluiu.